#5 Uma reflexão sobre desconfortos
Como reconhecer e enfrentar o desconforto que realmente importa para nos aproximar do que valorizamos?
Desconforto
[ô]
substantivo
ausência de conforto, comodidade.
Já parou para refletir sobre a palavra "desconforto"? Confesso a vocês que gastei um tempo repetindo essa palavra dentro da minha mente e observando as sensações que ela me traz.
Após uma sessão de terapia (mas poderia ser após qualquer sessão, pois esse é um assunto recorrente), onde o assunto era exatamente sobre desconforto, pensei em duas coisas sobre isso que quero compartilhar com vocês!
A gente se acostuma com o que é desconfortável: Já tem um tempo que eu preciso usar óculos (inclusive para dirigir), mas, por alguma razão que desconheço, eu os uso apenas nesse exato contexto. Em todos os outros, eu não faço uso e enxergo de longe com um certo borrão, como se as coisas fossem desfocadas. Eu me acostumei com esse desconforto a ponto de só percebê-lo quando coloco meus óculos e as tudo fica mais nítido e toma sua forma mesmo a longas distâncias.
Talvez esse seja aquele desconforto com o qual a gente não deveria se acostumar. Que dificulta a vida, traz sofrimento, não nos aproxima de nada que é importante (e no meu caso, mas não somente, aumenta o problema).
Tem dor (ou desconforto) que a gente acredita que vai desaparecer se fingirmos que ela não existe! Nossa mente nos conta histórias de que, se conseguirmos fingir bem e não pensar nela, ela vai desaparecer como em um passe de mágica. Eu sei, a intenção é não sofrer, mas, como no exemplo que eu dei sobre os meus óculos, o problema muitas vezes só aumenta!
Eu penso que a nossa tendência natural é essa. Afinal, muita da nossa aprendizagem emocional e de resolução de problemas é pautada em: “Esquece isso”, “Para de falar bobeira”, “Se você ficar falando nisso, aí sim que é pior”, “Engole o choro”, “Esquece que passa”. Se identificou com alguma dessas frases?
Nessa perspectiva, a gente acaba se acostumando com desconfortos que não deveríamos. Engolimos tanto o choro que sufocamos às vezes. Fingimos que algumas coisas estão “bem” quando não estão. Ficamos em relacionamentos ruins, não estabelecemos nossos limites, não dizemos os “nãos” que gostaríamos. Tentamos ignorar a tristeza.
Já te convenci que fingir que a dor/desconforto não existe aumenta o problema?
Esse é o tipo de desconforto que a gente vai precisar enfrentar. E aí chegamos ao segundo ponto.
Alguns desconfortos vão nos aproximar de coisas muito significativas e valorosas: Quando eu estava concursada 8 horas como Psicóloga Social e ainda fazia mais três horas como Psicóloga Clínica, me vi adoecendo aos pouquinhos porque me sentia exausta e sobrecarregada. Tinha o desejo de ser apenas Psicóloga Clínica, mas tinha muito medo da instabilidade financeira. Eu estava vivendo um desconforto muito grande e tinha um outro desconforto que me parecia maior ainda, que era a decisão de exonerar do concurso. Eu sabia o que era valoroso para mim e qual era a história que eu queria contar sobre a minha vida. Então, exonerei (contando parece simples, mas parecia que eu ia morar embaixo da ponte e passar fome).
Esse é aquele desconforto que vale a pena. Quando temos clareza do que valorizamos podemos suportar um desconforto em prol de algo que é significativo. É preciso tolerar um certo incomodo.
Você está mais dedicado em evitar a dor ou viver o que te importa?
Para refletir
As suas escolhas te afastam de experiências internas desconfortáveis ou te aproxima do que é valoroso?
Você está disposto a tolerar algum desconforto em prol do que valoriza?
Olhe para sua vida neste momento: quais desconfortos você se acostumou e não gostaria de ter se acostumado?
Pense em algum desconforto que esteja enfrentando: Eles te afastam ou te aproximam da pessoa que você gosta de ser, ou da vida que você gosta de viver?
Espero que esse texto faça sentido para você e te encoraje a olhar para sua vida com curiosidade para perceber quais os desconfortos que valem a pena e quais você se acostumou e não gostaria de ter se acostumado.
Boa leitura, beijos, May ♥